Golpe crema nossa história

Por sindoif

O Museu Nacional, a mais antiga instituição científica brasileira, foi tomada por um incêndio de grandes proporções na noite deste domingo, 2 de setembro. As chamas começaram por volta de 19h30, quando o prédio histórico, no centro do Rio de Janeiro, já havia sido fechado para o público. As imagens aéreas mostram o edifício completamente tomado pelas chamas e a dificuldade dos bombeiros de controlá-las.

O prédio foi criado por D. João VI e completou 200 anos em 2018. O edifício, que é tombado pelo patrimônio histórico, foi residência da família Real e tem uma ampla estrutura feita de madeira, o que facilita com que as chamas se espalhem.

Calcula-se que o acervo tenha cerca de 20 milhões de itens. Entre os destaques estão a coleção egípcia, que começou a ser adquirida pelo imperador Dom Pedro I e o mais antigo fóssil humano já encontrado no país, batizado de “Luzia”, com cerca de 11.000 anos. Até este momento não é possível saber qual o dano provocado pelas chamas, mas, segundo um funcionário da instituição, toda a área de exposição do museu foi atingida. “É um trabalho de anos, de 200 anos, muita gente que se foi deixou seu trabalho aí”, lamentou ele.

Esse incêndio é a síntese dos ataques à ciência em nosso país nos últimos anos. Muito pior que avaliar os cortes da CAPES e do CNPq é saber que o prédio e o espaço do Museu Nacional serão usados para especulação imobiliária. É a falência do conhecimento. Vejam porque no gráfico a seguir.

 

Nota do DCE UFRJ sobre o incêndio no Museu Nacional

É com profunda tristeza que comunicamos que ocorreu um incêndio no Museu Nacional de História Natural da UFRJ nesta noite de domingo. Fundada pelo Dom João VI em 1818 e localizado na Quinta da Boa Vista, a mais antiga instituição de pesquisa científica do país completou 200 anos este ano e guardava um enorme acervo de peças paleontológicas e arqueológicas inclusive o mais antigo fóssil de homo sapiens da América, a Luzia. O Museu conta com mais de 20 milhões de obras em seu acervo e é um dos mais importantes do mundo, possibilitam pesquisas centrais para nossa sociedade. Os bombeiros já estão no local, embora ainda não sabemos as causas do incêndio. Os quatros vigilantes que estavam no interior do museu não ficaram feridos e saíram a tempo. Com certeza, é uma perda de valor imensurável para a nossa comunidade acadêmica e para o nosso patrimônio científico, cultural e histórico.

Há muito tempo, pesquisadores e movimentos apontam que falta verba na educação para investimento e custeio, mas o Governo segue desmontando e desinvestindo em Educação, Ciência e Tecnologia. O que aconteceu hoje não é resultado de uma falta de manutenção no abstrato, mas de um projeto de educação que tem destruído toda a nossa Universidade e esgarçado as possibilidades de construir ciência pública, gratuita e emancipatória nesse país.

É triste notar o lugar que a educação tem ocupado nos últimos anos no nosso país: em menos de 10 anos, o Palácio Universitário, a Escola de Belas Artes, o Alojamento da UFRJ e agora o Museu Nacional foram levados pelas chamas. O que aconteceu hoje leva milhões de anos em pesquisas de humanidades, leva documentos e tratados que são centrais pra se compreender a nossa organização social atual e pensar no futuro do nosso país e leva junto uma gama enorme de memórias afetivas de muitos moradores e visitantes da cidade que conviveram por diversas gerações com um espaço aberto à comunidade que frequentava o espaço.

Para transformar a situação da UFRJ e das demais escolas e universidades no nosso país, precisamos virar o jogo e derrubar a Emenda Constitucional 95 que congela os investimentos em educação. Congelando as verbas, a gente possibilita que nosso presente, passado e futuro sejam destruídos.
#SemVerbaSemManutenção #CongelarÉFogo!

Esperamos que seja apurado o que houve e que nosso museu seja reconstruído. Toda solidariedade aos pesquisadores!

 

Nota do ANDES-SN

O ANDES-SN, convoca todxs os(as) professoras(os) para estarem presentes no atos em defesa da educação pública, amanhã, às 9hs no Museu Nacional e as 16hs na Cinelandia.

Uma tragédia anunciada acomete neste exato momento um dos principais redutos da Ciência, das Artes e da Tecnologia no Brasil. Um incêndio consome o Museu Nacional, que longe de ser um acidente, marca como as ações do poder público têm se desdobrado nos últimos anos para com o patrimônio simbolizado e edificado nesta unidade da UFRJ.

Assim, o ANDES-SN vem a público denunciar o descaso para com as diversas manifestações dos curadores, pesquisadores e demais interessadas/os sobre a manutenção e conservação do Museu Nacional. Entidade interligada à Universidade Federal do Rio de Janeiro, suas denúncias referentes às negligências por parte do poder público federal revelam o descaso para com parte da história da ciência, das artes e da tecnologia no Brasil. Espaço que até então celebrava seus 200 anos em meio à ausência de investimento, resistia por conta do labor de professores, pesquisadores, alunos e amigos que viam no Museu Nacional um dos embriões da necessidade de compreender a ciência e a tecnologia no Brasil como vetores de desenvolvimento e justiça social. Incalculáveis elementos referenciais nas mais diversas áreas do saber estão sendo incinerados num momento em que estamos prestes a vivenciar o que há de mais nefasto na vida social brasileira: a Emenda Constitucional 95/2017. Em meio a um cenário de lamentos e de indignação, reiteramos a necessidade da luta organizada para denunciar a ausência de investimentos na área de Ciência e Tecnologia, bem como de Educação e Cultura. O Museu Nacional não foge a este chamado, sendo fundamental que sua comunidade científica, ainda que abalada pela lástima ocorrida, lidere o processo de denúncia ao descaso para com este espaço fundamental de ciência, tecnologia, arte, cultura e educação, referência na América Latina. Somos solidários e estaremos ombro a ombro na luta pela defesa deste espaço, acreditando que a restauração de sua estrutura celebre a repactuação da Ciência, da Tecnologia, da Educação e das Artes como vetores de combate à dependência tecnológica, bem como ao combate à pobreza e à miséria que assolam nossa nação.

Somos Tod@s Museu Nacional!

Rio de Janeiro, 2 de setembro de 2018

 

 

Luzia, o mais antigo crânio humano das Américas. Com idade estimada entre 12,5 mil e 13 mil anos. Não resistiu aos ajustes neoliberais e ao congelamento da EC/95. Essa era ‘a ponte para o futuro’?

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