Que fase! Brasil troca 6 mil médicos cubanos por um teólogo colombiano

Por sindoif

O filósofo e teólogo colombiano, professor da Faculdade Arthur Thomas de Londrina (PR), Ricardo Vélez-Rodríguez, foi indicado para assumir o MEC no governo de Bolsonaro.

O futuro ministro é professor emérito da Escola de Comando do Estado Maior do Exército e sua indicação parece indicar que a lógica do sistema instrucional militar será o paradigma da gestão Bolsonaro na área da educação.

O professor Ricardo Vélez-Rodríguez é amigo pessoal de Olavo de Carvalho e reconhecidamente admirador do americano Willian S. Lind, teórico da guerra de 4ª geração e ligado ao governo de Donald Trump, e do israelense Martin L. Van Creveland, historiador e teórico militar sionista defensor do fim do estado.

Em artigo publicado em revista da Universidade Federal de Juiz de Fora, intitulado “O marxismo gramsciano, pano de fundo ideológico da reforma educacional petista“, o professor Ricardo ataca aquilo que denominou de “velho fantasma da República Sindical“. Em um parágrafo do referido artigo, ‘presta homenagem’ tanto ao educador Paulo Freire quanto ao Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior, explicando o que ele chama de “gramscização” da educação.

“O ensino básico já tinha sido enquadrado, ao longo da última década, mediante a gramscização das Secretarias Estaduais e Municipais de educação, com a adoção acrítica da doutrina de Paulo Freire, cuja teoria pedagógica pressupõe um tipo de politização revolucionária, em que a educação é o grande instrumento para a ascensão hegemônica das classes trabalhadoras. Nesse processo de ocupação de espaços, os militantes petistas foram de rara eficiência, tendo utilizado, como eficaz alavanca de poder, os sindicatos da categoria. Algo semelhante ocorreu no caso das Universidades Federais, que passaram a ser administradas por candidatos simpáticos aos interesses petistas. O domínio do ANDES, filiado à CUT, é indiscutível nesse terreno”. (grifos nossos)

O artigo em questão, publicado em agosto de 2006, traz uma incorreção histórica, pois o ANDES-SN rompeu com a CUT em 2005. Mas se o problema do novo ministro fosse apenas o desconhecimento da história e da trajetória do ANDES, ou de qualquer outro sindicato, o Brasil poderia estar bem mais tranquilo em relação aos caminhos da educação nos próximos anos.

Vejam o que disse o futuro ministro, no mesmo artigo, sobre os/as docentes que ingressaram nas instituições federais de ensino que foram abertas recentemente no Brasil, quando tratou da expansão de vagas e criação de novas universidades federais (cabe lembrar que, à época, ainda não havia o projeto dos Institutos Federais – que foi aprovado apenas no final de 2008):

“Verdadeira orgia orçamentívora (sic) de que são prenúncio as corriqueiras liberações de verbas públicas (praticadas pelo governo Lula), do orçamento da agricultura familiar, para beneficiar arruaceiros de longa data como o MST e o MLST. Generosas verbas oficiais que, através do Banco do Brasil, permitiram ao MST organizar sua própria Universidade, situada em Guararema, São Paulo, e dedicada à formação doutrinária dos “intelectuais orgânicos” do movimento. Formação que será ampliada, indiscutivelmente, nas 10 novas Universidades Federais, que com clara finalidade de doutrinação política o governo Lula aprovou ao longo dos últimos anos. É evidente que a militância tomará conta, com rara eficiência, das vagas de docentes que serão abertas, atabalhoadamente, nessas instituições de ensino superior.” (grifo nosso)

Portanto, na opinião do futuro ministro, as novas instituições federais tinham por objetivo central garantir emprego público para a ‘militância’ dita gramsciana. Que iria, com rara eficiência, “tomar conta” das vagas docentes nas novas instituições.

Como se esses professores e essas professoras não fossem passar pelo crivo de um concurso público! Indicando uma imagem distorcida do futuro ministro em relação as Instituições Federais de Ensino criadas nos últimos anos. E um desrespeito aos processos de ingresso dos professores e das professoras que trabalham nessas universidades e institutos federais.

No último dia 7 de novembro, Ricardo Vélez-Rodríquez publicou um post em seu blog pessoal onde afirmou que Olavo de Carvalho o havia indicado para Bolsonaro. E comentou o que gostaria de fazer caso assumisse a educação. Vale a pena a leitura do post, onde o futuro ministro se compara a Dom Quixote! Vejam o que disse Vélez-Rodríguez quando afirmou que deseja “refundar” o MEC:

“Ora, essa tarefa de refundação passa por um passo muito simples: enquadrar o MEC no contexto da valorização da educação para a vida e a cidadania a partir dos municípios, que é onde os cidadãos realmente vivem. Acontece que a proliferação de leis e regulamentos sufocou, nas últimas décadas, a vida cidadã, tornando os brasileiros reféns de um sistema de ensino alheio às suas vidas e afinado com a tentativa de impor, à sociedade, uma doutrinação de índole cientificista e enquistada na ideologia marxista, travestida de “revolução cultural gramsciana”, com toda a coorte de invenções deletérias em matéria pedagógica como a educação de gênero, a dialética do “nós contra eles” e uma reescrita da história em função dos interesses dos denominados “intelectuais orgânicos”, destinada a desmontar os valores tradicionais da nossa sociedade, no que tange à preservação da vida, da família, da religião, da cidadania, em soma, do patriotismo.” (grifo nosso)

Nesse texto o futuro ministro retornou com a tese da ‘revolução cultural gramsciana’, associando-a “educação de gênero”, num claro desrespeito ao trabalho pedagógico dos/as docentes de todo país, repetindo o discurso do movimento da mordaça e da censura.

Para compreender uma outra afirmação de Vélez-Rodríguez, acusando os ‘doutrinadores de índole cientificista’ de buscar reescrever a história em função dos interesses da ‘revolução cultural gramsciana’, vale a pena ler este outro post, onde o futuro ministro diz que devemos ‘comemorar’ o golpe de 1964.

Certamente se aproxima um período de muita luta para docentes, servidores/as federais e todos/as os/as trabalhadores/as do país.

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