Aluna do IFRS irá acompanhar a cerimônia do Nobel
Primeira jovem do país a conquistar tal feito, Juliana Davoglio Estradioto, foi premiada 11 vezes por pesquisas que realizou durante o curso de ensino médio integrado no IFRS.
Estudante do Campus Osório, no litoral norte gaúcho, Juliana tem apenas 18 anos e um currículo de peso: já faturou 11 prêmios científicos nacionais e internacionais, mais de 30 menções e votos de congratulações, participou de feiras de ciência nos Estados Unidos, e se tornou a primeira jovem brasileira da história a ser selecionada para acompanhar uma cerimônia do Prêmio Nobel.
Seu primeiro contato com os laboratórios ocorreu em 2015, quando ingressou no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul (IFRS) para cursar o técnico em administração integrado ao ensino médio. Na época, participou de um trabalho sobre a agricultura da sua região, onde há vasta produção de maracujá. “Nessas visitas, percebi que os resíduos gerados não tinham destinação correta”, declara. Naquele momento, resolveu desenvolver um projeto para amenizar o problema. A solução encontrada foi a produção de um filme plástico biodegradável (FPB) que substitui embalagens plásticas das mudas de plantas.
O produto, feito a partir de cascas de maracujá, leva cerca de 20 dias para entrar em decomposição e contribui com a redução da poluição do meio ambiente. O projeto rendeu à Estradioto o primeiro lugar na categoria Ensino Médio do Prêmio Jovem Cientista 2018, do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).
Durante a cerimônia da premiação, que ocorreu em outubro de 2018 em Brasília, a gaúcha não conteve a emoção. “Foi indescritível. Não é fácil fazer pesquisa, ainda mais quando tu estás no ensino médio e não tem nenhum recurso destinado para isso”, desabafa. “Precisa de muito esforço e dedicação. O reconhecimento mostra que valeu a pena e que estou no caminho certo.”
O estudo foi desenvolvido com orientação da professora Flávia Santos Twardowski Pinto (que aparece com Juliana na foto ao lado), a quem a estudante faz questão de agradecer. “Ela é brilhante, sempre me estimulou muito.“
Durante o ensino médio integrado, a estudante gaúcha desenvolveu três projetos científicos: o plástico da casca do maracujá, outro sobre a poluição do Rio dos Sinos, e um sobre a transformação da casca de macadâmia em substrato para microrganismos com o intuito de produzir energia e celulose.
Este último foi apresentado na 33ª MOSTRATEC, em 2018. Estradioto acabou ficando em 1º lugar na categoria Gerenciamento do Meio Ambiente. Com a colocação, ela foi selecionada para representar o Brasil no Seminário Internacional de Jovens Cientistas de Estocolmo (SIYSS, na sigla em inglês), programa exclusivo de ciência e cultura que leva 25 jovens pesquisadores do mundo para a Suécia.
A viagem acontecerá em dezembro de 2019, e ela vai apresentar sua pesquisa no seminário, visitar faculdades suecas, além de conhecer a família real do país. E o mais empolgante: vai acompanhar a cerimônia da premiação do Nobel – sendo a primeira jovem brasileira da história a ser escolhida para acompanhar a premiação. “Não tenho palavras para descrever, é incrível. Vou acompanhar o prêmio mais especial da ciência. Estou muito animada”, disse Juliana.
Meninas Cientistas
Para Estradioto, a ciência no ensino básico é pouco difundida. Ela pretende mudar esse cenário, promovendo programas que incentivam a participação de jovens em pesquisas. “Não existe vida sem ciência, e antes eu não enxergava isso. Hoje sou mais atenta ao que acontece no meu cotidiano. Para mim, todos os problemas são passíveis de solução”, relata. “Temos que lutar para que jovens sejam valorizados como pesquisadores e cientistas.”
A estudante do IFRS lamenta ter aprendido pouco sobre a participação de mulheres na ciência dentro da sala de aula. E para inspirar garotas, ela criou o projeto “Meninas Cientistas”, que vai divulgar pesquisas de meninas de todo o país. “Tento valorizar as mulheres como fontes de inspiração. Elas são tão especiais quanto os homens sobre os quais aprendi na escola”, destaca.
Uma das motivações é evitar que meninas passem por situações de discriminação de gênero, como ela já sofreu. “Um professor falou que eu não estava entendendo o conteúdo porque as mulheres não conseguem projetar o espaço tridimensional, e que a neurociência explicava isso”, lembra. “Foi tão horrível que não tive reação, congelei. Mas se isso fosse hoje brigaria com ele”, afirmou.
Em 2017, Juliana Davoglio Estradioto gravou um vídeo em que comenta sua pesquisa sobre a elaboração de filme plástico biodegradável a partir da casca do maracujá. Veja o vídeo a seguir.
Fonte: Revista Galileu.
Crédito das imagem: Profª Flávia Twardowski Pinto, Juliana Davoglio Estradioto e Divulgação IFRS.