Relações da família Bolsonaro travam o governo
Na semana da divulgação de relatórios do Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) apontando movimentações ‘atípicas’ nas contas do senador eleito Flávio Bolsonaro, o filho de presidente correu na direção daquilo que seu pai um dia chamou de “porcaria do foro privilegiado“.
Na quinta, 17, o ministro Luiz Fux, que está de plantão no STF, concedeu liminar (decisão provisória), a pedido do senador eleito Flávio Bolsonaro, suspendendo a investigação do Ministério Público do Rio, até que o ministro Marco Aurélio volte do recesso e decida em qual foro o processo deve tramitar.
A movimentação do senador eleito Flávio Bolsonaro junto ao Supremo Tribunal Federal teve como objetivo parar a investigação do Ministério Público do Rio de Janeiro em torno dos “rolos” de seu ex-assessor Fabrício Queiroz e, ainda, anular as provas conseguidas pelos procuradores. Mas que provas? Isso ainda não se sabe, pois o caso corre em segredo de Justiça e até bem pouco tempo Flávio Bolsonaro repetia que não estava sendo investigado.
Desde que os “rolos” de Queiroz se tornaram públicos, todos os movimentos da família Bolsonaro ofenderam a boa-fé da cidadania. Queiroz não atendeu a duas convocações do Ministério Público, passou por uma cirurgia e deixou-se filmar dançando. Já o senador eleito Flávio Bolsonaro considerou “plausíveis” as explicações que recebeu do ex-assessor. Mas quais foram?
Todas as justificativas dadas até agora partem da premissa de que as pessoas neste país são essencialmente idiotas. Em especial porque Fabrício Queiroz deixou de ser assessor de Flávio Bolsonaro no dia 16 de outubro, logo depois do primeiro turno da eleição, para cuidar do seu processo de aposentadoria. Por coincidência, sua filha, Nathalia Queiroz, personal trainer na cidade do Rio de Janeiro e simultaneamente assessora de Jair Bolsonaro em Brasília, foi exonerada no mesmo dia. Curiosamente, à época, o Coaf já estava rastreando a movimentação financeira de Queiroz.
Um relatório do Coaf, divulgado pelo Jornal Nacional, apontou que entre junho e julho de 2017 foram realizados 48 depósitos na conta do então deputado estadual do RJ e agora senador eleito, Flávio Bolsonaro. Todos os depósitos foram em dinheiro e no valor de R$ 2 mil – o limite máximo admitido nos equipamentos automáticos disponíveis na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj). Segundo informações reveladas pelo citado noticioso, foram R$ 96 mil em 5 datas:
9 de junho de 2017: 10 depósitos no intervalo de 5 minutos;
15 de junho de 2017: 5 depósitos no intervalo de 2 minutos;
27 de junho de 2017: 10 depósitos em 3 minutos;
28 de junho de 2017: 8 depósitos em 4 minutos;
13 de julho de 2017: 15 depósitos em 6 minutos.
Queiroz movimentou, entre janeiro de 2016 e janeiro de 2017, R$ 1,2 milhão. Ele recebeu 59 depósitos em dinheiro em valores fracionados que somavam R$ 216 mil. Entravam na conta dele no mesmo dia ou pouco dias depois do pagamento dos salários dos servidores. Queiroz também sacou R$ 159 mil em caixas automáticos dentro da Alerj.
Um outro do relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), sobre movimentações bancárias atípicas de Flávio Bolsonaro, apontou que ele fez um pagamento de R$ 1.016.839,00 de um título bancário da Caixa Econômica Federal. O Coaf diz que não conseguiu identificar o favorecido. Também não foi divulgada a data e nenhum outro detalhe do pagamento.
O valor total das movimentações financeiras atípicas identificadas pelo Coaf em uma das contas do ex-assessor do senador eleito pelo Rio de Janeiro Flávio Bolsonaro (PSL), Fabrício Queiroz, pode chegar a R$ 7 milhões em três anos. A informação foi publicada pelo jornal “O Globo” no domingo, 20, e aponta que o órgão vinculado ao Ministério da Justiça e da Segurança Pública rastreou que além dos R$ 1,2 milhão movimentados entre janeiro de 2016 e janeiro de 2017, outros R$ 5,8 milhões teriam passado pela conta do ex-motorista de Flávio entre 2014 e 2015.
Quer saber mais sobre os ‘rolos’ da família Bolsonaro? Leia Xadrez do fim do governo Bolsonaro, por Luis Nassif. E entenda um pouco mais sobre o envolvimento do clã Bolsonaro com as milícias paramilitares do Rio de Janeiro, suspeitas de envolvimento na morte de Marielle Franco.
Cabe registrar, por fim, que o pedido do senador eleito Flávio Bolsonaro ao STF para suspender a investigação sobre as movimentações financeiras do ex-assessor Fabrício Queiroz e anular as provas já colhidas funciona praticamente como uma admissão de culpa. Já que não pode responder às suspeitas com fatos, o filho do presidente resolveu recorrer ao tapetão. Politicamente, a manobra só agrava as desconfianças. Mas vale a pena ouvir o vídeo a seguir, em que o filho de Jair Bolsonaro emitiu, durante a campanha, sua opinião acerca do ‘foro privilegiado’: “a Lei é igual para todos, ou ao menos deveria ser“! O próximo movimento deste tabuleiro será dado pelo ministro Marco Aurélio, quando o Supremo voltar do recesso. Estaremos atentos/as.