Gestor de campus do IFRS defende retorno imediato

Por sindoif

Faltando menos de 10 dias para a sessão do Consup que irá tratar da prorrogação, ou não, da suspensão de atividades letivas e administrativas no IFRS, um integrante do Colégio de Dirigentes apresentou defesa do retorno imediato, em 6 de julho, a partir do uso de educação remota. Veja detalhes.

Apesar da ascensão da curva de contaminação da covid-19 no RS, com estudos que indicam que o pico deverá ocorrer apenas no mês de agosto. Ainda que tenhamos cidades, onde o IFRS se faz presente, sem um único leito de UTI disponível para atender casos graves de coronavírus. Mesmo com o incremento de mortes entre jovens e pessoas sem registro anterior de comorbidades, mostrando que a pandemia não ataca apenas idosos e indivíduos com doenças pré-existentes. Com todo esse cenário, o IFRS vê crescer manifestação de colegas defendendo o retorno imediato das atividades.

Após fazer manifestação junto à imprensa da Serra Gaúcha (leia aqui) defendendo a volta a partir de julho, o Diretor-Geral do Campus Farroupilha, Prof. Leandro Lumbieri, divulgou proposta que teria sido elaborada por um grupo de trabalho daquele campus. A proposta propõe o retorno imediato tanto do calendário acadêmico quanto de atividades administrativas de apoio ao “período letivo remoto” no IFRS.

Leia aqui a Proposta do Campus Farroupilha.

A ideia central das diferentes proposições que solicitam o retorno do calendário exclusivamente no formato remoto é fazê-lo descumprindo a Resolução Consup nº 08/2020. O regimento interno do Conselho Superior, por sinal, define prazo de 6 meses para que propostas vencidas, como foi o caso do retorno unicamente a partir de ensino remoto – que foi apresentada na sessão de 25/5 pelo conselheiro docente do Campus Feliz, Prof. Cleonei Cenci – possam voltar à pauta do órgão máximo do IFRS.

A proposta defendida por alguns colegas do Campus Farroupilha e do Campus Feliz, dentre outros, estabelece como data de retorno do calendário letivo o próximo dia 6 de julho, segunda-feira. O retorno seria na modalidade de ensino remoto e seriam criadas “estruturas de apoio” para atender estudantes que não tenham condições de acessar o conteúdo à distância.

As estruturas de apoio citadas no texto do Campus Farroupilha incluem o trabalho de servidores de tecnologia da informação e da área de ensino, em especial da assistência estudantil e dos núcleos de ações afirmativas. Em resumo, enquanto alguns poderiam programar ou acessar atividades a partir da segurança de suas casas, parte dos técnico-administrativos em educação e parte dos estudantes correriam riscos presenciais em polos de educação remota.

O documento com origem no Campus Farroupilha teria sido elaborado por um grupo de trabalho criado pela Ordem de Serviço (OS) nº 14, de 10 de junho de 2020. A proposta apresentada, no entanto, é datada de 12 de junho, apenas 2 dias após a dita publicação da referida ordem de serviço, segundo informação que consta no documento integralmente publicado no link anterior.

Os defensores do ensino remoto alegam, ainda, que sua proposta beneficiaria os estudantes e teria amplo apoio junto a este segmento. Na sessão do Consup do último dia 25, inclusive, os estudantes do Campus Feliz foram citados como defensores, em sua maioria, da proposta de educação remota. Com respeito ao alegado apoio dos estudantes à proposta do ensino remoto, leia aqui a nota do DCE do Campus Feliz sobre o tema. E, ainda, a segunda nota do DCE do Campus FELIZ (publicada em 15/6).

Mas afinal, o que é o Ensino Remoto Emergencial?

No início de maio, um parecer do Conselho Nacional de Educação (CNE) permitiu a reorganização do Calendário Escolar e a realização de atividades não presenciais para fins de cumprimento da carga horária mínima anual, em razão da pandemia da covid-19. Ainda em maio, o diretor-executivo da Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes) destacou que “cada instituição tem autonomia para planejar seu retorno e a aplicabilidade de recursos de ensino remoto”. A partir desta manifestação de João Carlos Salles Pires da Silva, o debate do ensino remoto emergencial (ERE) instalou-se nas instituições federais de ensino.

A proposta de ensino remoto emergencial é apresentada no artigo “The Difference Between Emergency Remote Teaching and Online Learning“, de Charles Hodges e colaboradores (2020), como sendo “uma mudança temporária para um modo de entrega alternativo devido as circunstâncias de crise“. Em determinado ponto do citado artigo, os autores afirmam que “a abordagem rápida necessária para a ERE pode diminuir a qualidade dos cursos ministrados. Um projeto de desenvolvimento de curso completo pode levar meses quando feito corretamente“. E ainda, “especialmente preocupante é o grau em que a acessibilidade dos materiais de aprendizagem pode não ser tratada durante o ERE“, concluem.

A proposta, portanto, preocupa-se sobremaneira com a logística da entrega em detrimento da qualidade do produto. Em grande medida, assemelha-se com aquele “fast food” que está mais preocupado com a velocidade de produção e entrega do alimento processado do que propriamente com os cuidados necessários para sua elaboração e com o seu resultado final. E os autores avaliam que “superada as circunstâncias da crise”, poderemos voltar à educação de qualidade.

Mas porque, então, deveríamos apostar em uma solução reconhecidamente de menor qualidade e que ainda expõe parte de nossa comunidade em polos presenciais? Justamente em um momento de crescimento na curva de contaminação e de morte devido a pandemia?

Que o Conselho Superior entenda a sua responsabilidade

O debate no Consup do IFRS, na sessão de 23 de junho, portanto, será entre os defensores da volta imediata, com polos presenciais e ensino remoto, e os que entendem que, no momento, a prioridade deve ser preservar vidas, ainda que com atraso no calendário letivo.

É fundamental lembrar que para recuperar o tempo perdido é necessário ter tempo para usufruir no futuro. Infelizmente, para a estudante de medicina da UFCSPA, Rosania Yang, de apenas 30 anos, a possibilidade de estar entre os concluintes de sua turma, em 2022, não será mais possível. Em 13 de junho, Rosania perdeu a luta contra a covid-19. É imprescindível lembrar de jovens como Rosania e homenagear colegas servidores e estudantes que estão na linha de frente do combate a pandemia, tanto nas ações de atenção à saúde quanto em comitês de solidariedade espalhados em todas as instituições federais de ensino e em todos os campi do IFRS.

Estamos fazendo nossa parte para combater a pandemia, ainda que os governos, em especial Bolsonaro, não o façam. Vale a pena aumentar a exposição de estudantes e colegas neste momento crítico? Reflita!

Pela prioridade de defender a vida! Sindicato é pra lutar, não para assistir!

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