À margem da ciência, o povo sofre e a morte governa

Por sindoif

Tendo cerca de 2,8% da população mundial, o Brasil registra aproximadamente 14,5% do total de óbitos pela pandemia de Covid-19 no planeta. Uma desproporção que é a marca registrada do atual governo. Ao completar 198 anos do ‘grito do Ipiranga’, constata-se que o país fez a opção pela morte.

Em plena “semana da Pátria” registrou-se a morte do criador do ‘kit covid’, o médico Guido Céspedes, de 46 anos, que faleceu na quarta-feira, 2/9, vitimado pela pandemia que prometia curar. O kit registrado por Céspedes continha hidroxicloroquina, azitromicina, zinco, ivermectina, ácido acetilsalisílico (o popular AAS) e ibuprofeno. Nenhuma das substâncias referidas tem efeito cientificamente comprovado no combate ao vírus SARS-CoV-2. Mas qual o espaço da ciência na era do engano e da mentira, gentilmente designada pelo neologismo de ‘pós-verdade‘?

O Brasil ultrapassou na sexta-feira, 4, a marca de 125 mil mortes ligadas à pandemia, segundo dados do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass) e do Ministério da Saúde. São os dados oficiais, que não contemplam os incontáveis casos sem notificação.

O número de infectados ultrapassou a casa dos 4,1 milhões de indivíduos em todo país, com uma média diária de cerca de 50 mil novos casos que são notificados pelo Conass.

Cerca de 3,2 milhões de pessoas se recuperaram da doença e quase 700 mil estão sendo acompanhados pelo sistema de saúde, segundo o ministério. O Conass não divulga número de recuperados. Diversas autoridades e instituições sanitárias alertam que os números reais de casos e mortes devem ser ainda maiores, em razão da falta de testagem em larga escala e devido a subnotificação.

Em um país enebriado pelo ódio à ciência, cujo governo faz campanha contra a vacinação antes mesmo de existir uma vacina, a opção pela morte parece ser a única resposta possível para aquela que teria sido a afirmação de Pedro de Alcântara, à margem de um riacho que passa, hoje, poluído e sem vida no meio da maior cidade do país.

O país vive sobre a égide do governo da morte. Em seu primeiro ano, a prioridade foi a reforma da Previdência, retirando direitos dos/as trabalhadores/as, aposentados/as e pensionistas, comprometendo o futuro da juventude. Em plena pandemia, um novo ataque pretende reimplantar o clientelismo e o compadrio no serviço público, a partir da reforma administrativa, visando destruir o que ainda funciona no país – como o alquebrado SUS que enfrenta a pandemia, apesar do brutal corte de recursos a partir da emenda constitucional 95 (teto do gastos).

O presidente da República e seu governo são os principais instrumentos do genocídio que vem causando milhões de contaminados e milhares de mortes no Brasil, mas não são os únicos responsáveis. Setores conservadores da sociedade, com destaque para algumas igrejas neopentecostais, políticos oportunistas e parte do judiciário e do ministério público, são corresponsáveis pela tragédia.

O resultado é o descaso para com a saúde e com a vida dos brasileiros. Como gado, o povo pobre e humilde vai para o matadouro. Conforme pergunta a brilhante escritora Eliane Brum, em um texto recente (aqui), “como pode barrar seu próprio genocídio um povo que se acostumou a morrer?

Como resposta, Eliane sugere: “rebelando-se. Não porque agora seja possível ganhar. Mas para não ser obrigado a baixar os olhos quando as crianças perguntarem no futuro próximo de que lado você estava e o que você fez para impedir Bolsonaro de seguir matando.

É tempo de dar um basta! De resistir e se rebelar! De se organizar para enfrentar o genocídio! Venha conosco! Sindicato é pra lutar, não para assistir!

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