CONIF estimula volta presencial com apenas 20% de imunização da população
O CONIF, Conselho de Dirigentes da Rede Federal de Educação Profissional e Tecnológica, divulgou documento em que propõe “retorno presencial gradual” estabelecendo o limite entre 20 e 40% de cobertura vacinal da população como “cláusula de imunidade de rebanho”. Leia mais!
O documento do CONIF, intitulado Reflexões sobre o Retorno Gradual às Atividades Presenciais (leia no link), propõe que o retorno tenha início a partir da imunização entre 20% e 40% da população com 2ª dose da vacina contra a Covid-19.
Sem dizer de onde tirou tal hipótese, a proposta parece estabelecer um jogo de percentuais para tratar daquilo que o texto descreve como “a ansiedade natural da população, servidores e gestores em relação à retomada gradual das atividades presenciais, após longo período de suspensão devido a pandemia“.
São os seguintes os parâmetros mínimos para retorno presencial das atividades administrativas e educacionais em institutos federais e CEFET sugeridas pelo CONIF:
- Capacidade de atendimento da rede hospitalar local (taxa de ocupação de leitos clínicos e de UTI), entre 60 e 80% de leitos ocupados na rede pública;
- Taxa de transmissão comunitária (número de casos novos por dia por 100.000 habitantes, nos últimos 07 dias) entre 25 e 50 pessoas;
- Redução maior que 20% no número de óbitos e casos de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG), comparando à Semana Epidemiológica (SE) finalizada, em relação as duas semanas anteriores (Faixa verde – CONASS/CONASEMS);
- Índice de vacinação da população entre 20 e 40% (2ª Dose);
- Índice de vacinação de profissionais de educação concluída em 2ª Dose.
O texto propõe que a retomada aconteça se “entre 3 ou 4 estratégias”, das 5 apresentadas, tenham sido “implementadas de forma correta e consistente”.
A proposta denominada de fase 2 (retomada) incluiria o retorno de atividades de ensino de cunho prático (em laboratórios), avaliações de aprendizagem de forma presencial, orientações presenciais, entrega presencial de documentos e de protocolos e o retorno de atividades administrativas presenciais, entre outras liberalidades.
O documento sugere, ainda, uma fase 3 (denominada de regime de oferta mista) e uma fase 4 (que liberaria todas as aulas presenciais). Para cada fase o documento propõe parâmetros diferentes.
Para a fase 4, que liberaria todas as atividades administrativas e acadêmicas presenciais, o CONIF sugere um índice de vacinação da população (e da comunidade acadêmica) maior que 75%.
De onde saíram estes percentuais?
O texto não identifica qual a fonte científica que permitiu ao egrégio Conselho de Dirigentes sugerir “cláusulas de barreira de rebanho” tão estritas, em especial em um momento que muitos pesquisadores afirmam ser impossível determinar um percentual de “imunidade de rebanho” diante das novas variantes da Sars-Cov-2.
Quando os primeiros casos de Covid surgiram, em 2020, a comunidade científica estimou que a imunidade coletiva poderia ocorrer quando cerca de 70% de uma população estivesse protegida. “Mas essa sempre foi uma aproximação, presumindo muitas coisas e ignorando outras mais”, disse Samir Bhatt, professor da Escola de Saúde Pública do Imperial College de Londres, segundo recente matéria da Folha de SP.
“As pesquisas iniciais indicavam que o Sars-Cov-2 passava de um infectado para duas ou três pessoas, mas essa razão de contágio subiu com o aparecimento da alfa e mais ainda com a delta“, disse Raghib Ali, pesquisador clínico sênior da Unidade MRC de Epidemiologia da Universidade de Cambridge. E, ainda mais, com a variante lambda, surgida no Peru, e que tem capacidade de infecção 50% superior à delta.
Para o professor emérito de estatística aplicada da Open University, Kevin McConway, os dados já disponíveis sobre a barreira das vacinas ao contágio são insuficientes para estimar qual seria uma imunidade coletiva para a Covid, seja qual for a variante que predomina. “Muitos cálculos são indiretos: estima-se a eficácia contra infecção assintomática, por exemplo, e, em seguida, são feitas suposições sobre a probabilidade de um assintomático transmitir o vírus para outra pessoa. Há várias fontes diferentes de incerteza aqui, então as estimativas não são muito boas”, disse o Prof. MCConway.
Por isso fica a pergunta: de onde o CONIF tirou que com 20% de cobertura vacinal já dá pra voltar com atividades administrativas e com aulas práticas?
O CONIF e os dirigentes das instituições, Reitores, Pró-Reitores e Diretores-Gerais, vão garantir orçamento para 100% de testagem da comunidade acadêmica quando deste “retorno gradual”? Ou o retorno será por conta e risco de estudantes, docentes, técnico-administrativos em educação e trabalhadores terceirizados?
Nosso sindicato irá questionar o IFRS sobre a aplicação deste “protocolo” sugerido pelo CONIF.