Esposa e mãe de miliciano atuavam no gabinete de Flávio Bolsonaro
Até novembro de 2018, o senador eleito Flávio Bolsonaro (PSL) empregava em seu gabinete a esposa e a mãe do ex-capitão PM Adriano Magalhães da Nóbrega, apontado pelo Ministério Público do Rio como o comandante do “Escritório do Crime“.
Foragido, o ex-capitão do Bope Adriano Nóbrega é acusado de envolvimento em homicídios há mais de uma década e foi homenageado por Flávio na Assembleia Legislativa do Rio (Alerj), em duas ocasiões: em 2003 e 2005. Adriano Nóbrega também é amigo de Fabrício Queiroz, investigado por movimentações ilegais pelo Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf).
Raimunda Veras Magalhães, a mãe, e Danielle Mendonça da Costa da Nóbrega, a esposa, tinham cargos com salário de R$ 6.490,35. Elas foram exonerados em 13 de novembro de 2018, sendo que em agosto, o jornal O Globo havia noticiado a existência do Escritório do Crime. Raimunda aparece como uma das servidoras do gabinete que repassaram dinheiro para a conta de Queiroz, que teria indicado as duas mulheres para o cargo.
Segundo dados da Receita Federal, presentes no relatório do Coaf, Raimunda é dona de um restaurante no bairro do Rio Comprido, que fica em frente à Agência 5663 do Banco Itaú, onde foram feitos a maior parte dos depósitos na conta de Fabrício Queiroz. Ao todo, foram 17 depósitos não identificados que somam R$ 91.796. Segundo integrante do Ministério Público Federal, os valores eram repetidos: indício de lavagem de dinheiro.
Adriano Magalhães da Nóbrega é ex-integrante do Bope e foi preso na operação “Dedo de Deus”, em 2011, que combatia o jogo do bicho no Rio de Janeiro. Em 2003, Flávio homenageou seu “brilhantismo e galhardia” e elogiou seu “espírito comunitário”. Dois anos depois, concedeu a Medalha Tiradentes ao ex-capitão, a mais alta honraria da Alerj. Ronald Alves, que também teve um mandado de prisão emitido nesta terça-feira (22), também foi homenageado por Flávio Bolsonaro em 2004, por ter participado de uma operação no Complexo da Maré que terminou com três mortos, dois fuzis e uma granada apreendida.
Flávio Bolsonaro divulgou uma nota se defendendo das acusações dizendo que ela foi contratada por Fabrício Queiroz. “Não posso ser responsabilizado por atos que desconheço, só agora revelados com informações desse órgão. Tenho sido enfático para que tudo seja apurado e os responsáveis sejam julgados na forma da lei. Quanto ao parentesco constatado da funcionária, que é mãe de um foragido, já condenado pela Justiça, reafirmo que é mais uma ilação irresponsável daqueles que pretendem me difamar. Sobre as homenagens prestadas a militares, sempre atuei na defesa de agentes de segurança pública e já concedi centenas de outras homenagens”, afirmou em nota.
Quem matou Marielle e Anderson?
O principal suspeito de assassinar Marielle Franco e Anderson Gomes é um ex-policial militar, capitão do Batalhão de Operações Especiais da PM (Bope). A informação foi divulgada pelo portal Intercept Brasil. Segundo a matéria publicada nesta sexta-feira (18), o suspeito teria sido expulso da PM por envolvimento com a máfia do jogo do Bicho no Rio de Janeiro. Desde então, passou a trabalhar exclusivamente como mercenário de bicheiros, políticos e quem mais estivesse disposto a pagar por seus serviços. Ele comanda um grupo em Rio das Pedras, Zona Oeste da capital fluminense, do qual ainda fazem parte ao menos dois outros ex-policiais. Ambos também tiveram participação no extermínio da vereadora e seu motorista.
O Intercept Brasil teve acesso ao inquérito do caso, o mesmo que a Justiça proibiu que a Rede Globo divulgasse. No processo, ao menos seis testemunhas citam o ex-policial como assassino de Marielle e Anderson. O veículo não divulgou o nome do suspeito, por considerar que poderia atrapalhar nas investigações. Em maio do ano passado, dois meses após o crime, o mesmo portal já havia antecipado a possibilidade de que o assassino teria ligações com o Bope. Agora as investigações da Delegacia de Homicídios, através de coleta de depoimentos e inquéritos de outras execuções, apontaram o nome do suspeito.
Além disso, as apurações também apontam a possibilidade do envolvimento de milicianos na grilagem de terras e exploração de saibro na zona oeste no crime. Segundo o Intercept Brasil, pela linha de investigação, Marielle seria um entrave aos negócios do grupo. No entanto, a polícia ainda não apresentou provas que sustentem essa hipótese. Leia ainda “Major da PM e mais 4 são presos em operação contra milícia que age em grilagem de terras no RJ”. E veja que o nome de Adriano Magalhães da Nóbrega aparece novamente.
Fonte: G1, Intercept Brasil e Brasil de Fato.