Antifascistas organizam atos massivos em todo país
Em Porto Alegre pelo 4ª final de semana consecutivo, e em muitas outras cidades do estado e do país, o movimento antifascista toma às ruas para pedir a saída de Bolsonaro. Veja detalhes.
Mas afinal, quem são os/as antifascistas e qual a origem deste movimento? Qual o significado do passado de enfrentamento ao nazifascismo para os/as jovens que lutam hoje? Vamos resgatar um pouco da trajetória daqueles e daquelas que se opuseram ao fascismo no início do século XX. E tentar contar um pouco do que aconteceu em Porto Alegre neste último mês.
Antifascismo, a origem
Nas últimas décadas, grande parte da luta antifascista ao redor do mundo foi inspirada, conscientemente ou não, pela estratégia da Antifaschistische Aktion promovida pelo Partido Comunista Alemão (KPD), que é a origem da “bandeira antifascista”.
A estratégia da ação antifascista só pode ser entendida no contexto da política do KPD na época, que por sua vez foi fortemente influenciada pela posição majoritária no movimento comunista internacional no início dos anos 30. De acordo com essa posição, toda a Europa estava nas mãos do fascismo. É verdade que a Itália era controlada pelos fascistas de Benito Mussolini, mas na Alemanha, por exemplo, os partidos tradicionais do capitalismo – democratas-cristãos e social-democratas – ainda estavam no comando. Isso não foi problema para a teoria do KPD que simplesmente rotulava como fascistas os demais partidos alemães e, no caso do Partido Social Democrata, o SPD, o chamava de “social fascista”.
Assim, durante a ascensão de Hitler, o KPD, lutou contra os nazistas, mas sempre do ponto de vista de que o SPD era um inimigo tão ou mais perigoso que o nazifascismo. De outra parte o SPD também via o KPD como seu inimigo principal. Os líderes social-democratas acusavam os comunistas de serem “nazistas vermelhos”, comparáveis aos seguidores de Hitler.
Na década de 1920, o KPD tinha uma força de combate chamada “Liga dos combatentes da frente vermelha”, que foi proibida oficialmente pelo estado alemão em 1929. Para agir de maneira mais aberta contra o fascismo, o KPD anunciou em sua imprensa o lançamento do Antifaschistische Aktion, Ação Antifascista. O evento inaugural – do qual há uma famosa foto, de um enorme salão decorado com a bandeira vermelha antifascista – foi realizado em junho de 1932.
Inicialmente, alguns líderes do KPD queriam que o movimento fosse mais do que uma organização apenas para um único partido. Falou-se de um possível entendimento com os socialistas, e na foto do congresso fundador aparece, de fato, uma faixa social-democrata (SPD) junto a uma faixa do KPD. Mas essa atitude aberta e que pretendia ampliar o movimento antifascista, infelizmente, não se concretizou.
Em janeiro de 1933, pouco mais de meio ano após a criação da ação antifascista, Hitler chegou ao poder na Alemanha e, em pouco tempo, destruiu o mais vigoroso movimento operário da Europa na época. Em resumo, a política dos dois grandes partidos operários alemães contra Hitler demonstrou-se absolutamente desastrosa.
O fracasso do primeiro movimento Antifa deve ser um aprendizado para os ativistas que querem barrar o fascismo hoje.
O atual enfrentamento ao fascismo
Fundado nas torcidas de grandes clubes de futebol, possivelmente o local menos esperado pelos estudiosos das ciências sociais para uma ação política organizada, os novos movimentos antifascistas buscam aprender com erros do passado para enfrentar os desafios da conjuntura atual.
Na última quinta-feira, 4 de junho, um grupo de antifascistas gaúchos convidados pela Coluna Vermelha, torcida antifa do Internacional, reuniu-se para organizar o ato que seria realizado no domingo seguinte.
Os organizadores relataram que a primeira ação antifa em 2020, na capital gaúcha, ocorreu em 19 de abril, um domingo, em frente a sede do Comando Militar do Sul (CMS) no centro da cidade. Um grupo de exatos 18 torcedores foi para o enfrentamento com cerca de 70 militantes bolsonaristas que pediam intervenção militar e a volta do AI-5.
No domingo seguinte, os antifascistas já eram cerca de 50 e, depois, algo como 100 participantes, quando passaram a chamar a atenção de torcidas antifa de outras cidades do país.
A manifestação de 31 de maio, ocorrida em Porto Alegre, teve cerca de 300 antifascistas e apenas algo como 50 bolsonaristas. Neste mesmo dia, cidades como São Paulo e Rio de Janeiro organizavam, também, manifestações antifa com massiva participação.
A organização do ato de 7 de junho em Porto Alegre, que contou com milhares de manifestantes antifascistas no centro da capital gaúcha (os mais otimistas relatam cerca de 5 mil pessoas), marcou também o desaparecimento dos bolsonaristas do quadrilátero do Comando Militar do Sul. Nenhum bolsonarista apareceu.
Nesta mesma data o movimento antifascista se espalhou por todo país, inundando de resistência cidades que ainda não haviam registrado atos significativos de enfrentamento ao governo Bolsonaro.
Em plena pandemia e com todos os riscos (e cuidados) que as manifestações de rua ensejam, um sopro de otimismo está estampado na fachada do prédio do antigo 3º Exército, hoje Comando Militar do Sul. Um grupo de jovens, mulheres, negros e LGBTs, eleva seus punhos e sua voz contra o fascismo. E canta: “Recua, fascista, recua”.