Crime no Carrefour expõe racismo estrutural no país
Espancado até a morte em 19 de novembro, no estacionamento do Carrefour da Zona Norte da capital gaúcha, João Alberto é mais uma vítima da violência racista que o negacionismo do atual governo federal afirma não existir no Brasil. Leia detalhes.
Uma multidão de pessoas se reuniu em protesto, no final da tarde da sexta-feira (20) em Porto Alegre, em frente ao Carrefour onde João Alberto Silveira Freitas, o Beto, homem negro de 40 anos, foi agredido até a morte por dois seguranças.
O ato do Dia da Consciência Negra na capital gaúcha acabou se transformando em um grito de justiça por Beto, exigindo um basta ao genocídio, a violência contra o povo negro e o racismo estrutural da sociedade brasileira.
Colegas do IFRS foram ao ato para manifestar sua indignação e soltar seu grito pedindo justiça por Beto. A vice presidenta do SINDOIF e integrante da diretoria eleita do ANDES-SN, Profª Manuela Finokiet, portava um cartaz com a frase que serviu de pauta para os debates do Novembro Negro dos campi do IFRS na região metropolitana, lembrando George Floyd, perguntava: “alguém consegue respirar?” Ao seu lado estava a Profª Giselle Maria Santos de Araújo, docente no Campus Alvorada, assim como Manuela, portando um cartaz com um trecho do poema “Protesto“, do escritor negro Carlos de Assumpção. A Profª Andréia Meinerz, do Campus Restinga, também escolheu como frase a pergunta que marcou o Novembro Negro do IFRS.
Pouco antes das 19h, os manifestantes iniciaram uma caminhada até o estádio do Passo D’Areia, puxados pela torcida organizada do Esporte Clube São José, do qual Beto era torcedor. Nesse momento, algumas pessoas começaram a forçar a grade de entrada do supermercado. Alguns conseguiram entrar, queimaram cartazes e picharam palavras antirracistas na fachada do prédio.
A Polícia de Choque da Brigada Militar estava dentro do Carrefour apenas aguardando a oportunidade para atacar a população com gás lacrimogênio e balas de borracha. Também ocorreram atos no Carrefour em outras cidades, como Rio de Janeiro, Curitiba e Belo Horizonte. Em São Paulo, uma loja do Carrefour próxima da Avenida Paulista foi destruída após um protesto convocado pelo movimento negro da cidade.
Na própria sexta, 20/11, Dia da Consciência Negra e apenas poucas horas após o crime ocorrido em Porto Alegre, o vice-presidente da República, Hamilton Mourão, declarou que não existe racismo no Brasil, ao comentar uma pergunta sobre o assassinato de João Alberto.
“Para mim no Brasil não existe racismo. Isso é uma coisa que querem importar, isso não existe aqui. Eu digo pra você com toda tranquilidade, não tem racismo“, disse.
No sentido inverso do negacionismo apregoado por Hamilton Mourão, para o jovem negro, historiador e youtuber Jones Manoel, “ser negro no Brasil é sentir medo, muito medo“.
Jones publicou suas impressões nas redes sociais logo após os eventos do Carrefour na capital gaúcha. O medo do negro no Brasil começa na infância, segundo ele. Medo de ser parado pela polícia, de ser “confundido” com alguém acusado de roubo. “Vocês, no seu mundo branco, não sabem o que é esse medo onipresente e onisciente. E eu espero que nunca saibam. Não é uma sensação boa“, disse (leia aqui a postagem completa).
No decorrer da semana novas manifestações estão sendo organizadas para exigir JUSTIÇA POR BETO, em Porto Alegre e outras cidades do país.