Proifes constrange ao sugerir furar a fila da vacinação
A Proifes-Federação defendeu na terça, 19, que a prioridade de imunização no país seja alterada para priorizar docentes, em total desacordo com o planejamento de técnicos vinculados ao Sistema Único de Saúde. Leia mais.
A federação docente conhecida como Proifes lançou nesta terça-feira, 19, a campanha para imediata imunização de educadores, sugerindo que seja alterada a fila de prioridades na vacinação estabelecida por técnicos vinculados ao Sistema Único de Saúde.
“Neste momento em que urge a vacinação de toda a população brasileira, é necessário que a educação seja elencada como grupo prioritário, considerando o contexto de grande contato dos e das docentes e demais profissionais da educação com grupos de alta incidência assintomática do vírus, como é o caso dos jovens”, afirmou o presidente da Proifes, Nilton Brandão, no portal da referida federação.
De forma constrangedora, para quem deveria defender a ciência e enfrentar o negacionismo, a sugestão da Proifes contribui para desacreditar o trabalho dos técnicos do Ministério da Saúde que planejaram o processo de imunização no país e elencaram os grupos prioritários para vacinação.
Nesta primeira semana de vacinação são muitas as denúncias de pessoas que teriam furado a fila de prioridades para imunização no país. Em Manaus a vacinação foi suspensa nesta quinta, 21, após denúncias que familiares de empresários postaram fotos em redes sociais indicando terem sido imunizados. O Ministério Público do AM está investigando as denúncias. O Prefeito da cidade, David Almeida, ameaçou proibir a divulgação de imagens de pessoas recebendo a vacina, segundo o portal G1.
Neste cenário é ainda mais constrangedor que uma federação sindical defenda furar a fila da vacinação. Na opinião do médico Carlos Alberto Gonçalves, professor e diretor da Seção do ANDES-SN na UFRGS, “esse corporativismo sequer é original. O STF, ou setores dele, também pediram essa concessão“, afirmou.
“A proposta da Proifes de dar prioridade aos professores está carregada de arrogância e desconhecimento. Muitos docentes, por estarem à frente no combate a Covid-19, terão prioridade na primeira fase. Muitos professores seniores, ativos e aposentados, pelo risco e idade, também estarão na primeira fase“, disse. “Não é o momento, como pensa a Proifes, de fazer a política da ‘farinha pouca, meu pirão primeiro’. Devemos pressionar o governo federal para que todas e todos sejam vacinados. Só assim todos teremos segurança para voltar ao trabalho e às salas de aula“, concluiu.
A médica da família e epidemiologista Angela Moreira Vitória, professora da UFPel e atual vice-presidenta da seção sindical que representa docentes naquela universidade, a Adufpel, também entende que a ordem de prioridade estabelecida deve ser mantida. “Quem está na frente de docentes na ordem de prioridade são idosos e indígenas, por exemplo. Indígenas se contaminam mais e morrem mais, como mostra o EPICOVID. E o mundo sabe que idosos morrem mais nesta pandemia“, disse.
A professora Angela também defendeu que a luta docente seja por vacina para todo povo brasileiro. “Entendo que a gente tem que achar formas de pressionar. Mas este argumento da Proifes coloca o movimento docente em risco de não ser ouvido“, concluiu.
Para o SindoIF não há qualquer motivo científico que justifique a alteração da prioridade no planejamento de vacinação no Brasil. O nosso país precisa obter insumos e produzir vacinas para atender todos os brasileiros e todas as brasileiras. Imunizando toda a população, não será preciso lançar mão de nenhuma “Lei de Gérson”, sugerindo que alguns devam levar vantagens em relação aos demais.
Nossa luta é por vacina para docentes, para técnico-administrativos em educação, para estudantes, para trabalhadores terceirizados, para nossos familiares, para todo o povo brasileiro. Não podemos aceitar este corporativismo tosco, travestido de sindicalismo de resultados e aparências.
Sindicato é pra lutar, não para assistir! Sindicalize-se! Para lutar com o ANDES-SN, clique aqui!